Folheie a revista

sábado, 27 de março de 2010

Um ano de missão em Angola

Pe. Luiz de Liberali, ex-delegado da Pastoral Juvenil em nossa inspetoria, completou no mês de fevereiro um ano de missão em Angola e compartilhou, num texto muito profundo, suas reflexões:

No dia 11 de fevereiro, memória das aparições de Maria em Lourdes, estava viajando de Luanda a Luena de carro (1.200 km–20 horas), atravessando quase toda Angola, exatamente como um ano atrás, mas já com outra alma: um ano atrás estava indo pela primeira vez conhecer a nova missão, enquanto agora estava agradecendo a Deus por tudo o que me tinha dado a possibilidade de viver, sabendo muito bem o que me estava esperando.

NOVAS DESCOBERTAS E APRENDIZADO
Neste ano já vi a mudança, de um lugar para outro, de inteiros povoados (e vários), devido a diferentes fatores: decisões das autoridades, consequências de brigas entre famílias (e a crença no “feitiço”), às vezes por causa de eventos naturais ou para chegar mais perto de estradas ou pontes... as mudanças carregam consigo sempre muito trabalho e sofrimento, porém vejo nisso também uma espécie de providência, para própria segurança da comunidade. Penso também na mudança de missão que aconteceu na minha vida e como foi providencial tudo isso para dar um novo impulso aos meus ideais missionários e fazer outros conhecer e refletir sobre esta realidade! 
UM TEMPO PARA CADA COISA
O ano é dividido em dois grandes períodos: o tempo das chuvas (de outubro a março) e o tempo da seca (de abril a setembro): “Um tempo para cada coisa...” (Ecl 3,1) No tempo das chuvas a natureza é toda verde e bonita, o clima é temperado, mas os povoados se esvaziam e as pessoas vão viver nas lavras (para preparar os terrenos, plantar, defender as plantações de animais e roubos, e para colher); na seca a natureza muda completamente: a terra fica muito arenosa, as árvores perdem as folhas, existem muitas queimadas (a maioria feita de propósito!) e chega a fazer muito frio à noite. Nos povoados, a vida retorna à normalidade. Por isso, para realizar um trabalho evangelizador mais eficaz é mais fácil encontrar as pessoas no tempo da seca. As duas maneiras de viver produzem, porém, muita inconstância e instabilidade nas atividades e na caminhada das comunidades.

CRIANÇAS: ESPERANÇA DE UMA NOVA ANGOLA
As crianças sempre chamam a atenção pela simpatia: são a realidade mais bonita e simpática que se encontra nas comunidades. Estão em todos os lugares, andam sempre em grupinhos, respondem com um sorriso às saudações e chamam de “amigo!” Quando visito as comunidades, convido a acolher bem as crianças nas capelas e dou a paz a todas, abençoando-as. Muitas vezes penso no futuro destas crianças e fico triste, vendo a falta de estruturas adequadas para uma educação humano-cristã e uma preparação sociocultural delas: tomara que os responsáveis assumam as crianças como prioridade nas escolhas políticas e econômicas: elas são a esperança de uma nova Angola!

MULHER, TRABALHADORA INCANSÁVEL
A mulher tem um papel fundamental na vida das comunidades, não porque seja bem valorizada, mas porque trabalha incansavelmente. Nas capelas aparecem sempre com um “pano” (que serve como saia comprida, em cima do vestido), acompanham a liturgia cantando e animam com suas danças as celebrações. Se todas as mulheres ficassem paradas não sei o que aconteceria! A mulher é, de verdade (como diz Pe. Zezinho) “um céu de ternura, aconchego, calor” e (acrescento eu) trabalho!

EDUCAÇÃO: NECESSÁRIA, MAS DEFICIENTE
O problema da educação é muito difícil a ser resolvido, pela falta de estruturas, mas, sobretudo, de pessoas preparadas e dedicadas a isso. Os prédios escolares são precários ou ainda abandonados, como no período da guerra; quase todos devem levar uma cadeira para a escola para poder sentar; a merenda escolar quase não existe (os alunos devem levar pra escola água e lenha, para preparar alguma coisa). Na zona rural, o analfabetismo chega a 80% da população. Muitas crianças não estudam porque moram longe da escola ou porque no povoado não tem professor. Também quem frequenta a escola aprende com dificuldade, se aprender, a ler e a escrever! Quantas crianças e jovens, pelo mundo afora, recebem uma “educação de qualidade” e muitas vezes, não sabem valorizá-la.

VISITAS, CELEBRAÇÕES E NOVAS DESCOBERTAS
Neste ano consegui visitar quase todas as comunidades da nossa grande paróquia (quase 70.000 km2) e muitas foram as “primeiras missas” que celebrei, porque nenhum missionário tinha chegado lá antes.. Lembrando que estamos no Ano Sacerdotal, vamos rezar um pouco mais para que Deus mande trabalhadores na sua vinha, como Jesus pediu quando viu situações parecidas (Mt 9,36-37) e não faltem pastores para acompanhar as comunidades cristãs.
Neste ano percorri estradas de todo tipo...Também furei pneus como nunca! Porém, nestas viagens sempre me lembrei desta frase de um canto dedicado a Maria, que me deu muita coragem no meio as dificuldades: “Se parecer tua vida inútil

Pe. Luiz De Liberali
 Paróquia de São Pedro e São Paulo,
em Luena - Moxico
E-mail e MSN: padreluiz@hotmail.com
Skype: luigideliberali

Nenhum comentário:

Postar um comentário